Há uma ideia quase romântica da criatividade: a noção de que “fora da caixa” é sinónimo de
sucesso. Muitas marcas pedem ideias nunca antes vistas, acreditando que a diferença está
apenas no choque ou na originalidade. Mas a verdade é outra: a criatividade só tem impacto
real quando serve um propósito. Mais do que inventar algo excêntrico, trata-se de resolver
problemas, reforçar valores e criar ligações com as pessoas.
Um bom exemplo desta abordagem veio de Portugal, com a campanha “Hidden Tags” da IKEA.
Para celebrar os 20 anos da marca no país, a sua agência de comunicação criou uma ideia
simples mas brilhante: desafiar os consumidores a encontrarem etiquetas de produção
escondidas nos móveis. Aquilo que parecia um detalhe irrelevante transformou-se em prova
de durabilidade e ligação afetiva. O resultado foi surpreendente: milhares de participações,
aumento de vendas, crescimento do programa de fidelização e reconhecimento internacional
no Cannes Lions, o maior festival de criatividade do mundo. A campanha pegou numa
perceção comum (“será que dura?”) e transformou-a numa celebração coletiva da marca. Um
caso claro de criatividade estratégica: simples na execução, poderosa nos resultados.
Outro caso emblemático é o “Epic Split” da Volvo. Como comunicar algo tão técnico como a
estabilidade da direção dinâmica de camiões? Em vez de se perder em termos complexos e
aborrecidos, a marca agarrou no Jean-Claude Van Damme para fazer o icónico “split” entre
dois veículos em movimento. Um gesto visual simples que tornou evidente a precisão do
produto. O vídeo tornou-se viral, com mais de 100 milhões de visualizações, e provou que até
características técnicas podem ganhar força emocional quando comunicadas de forma original.
Estes exemplos mostram que a criatividade estratégica não depende de truques, mas de
relevância. A IKEA não inventou um conceito extravagante, destacou um detalhe que já existia
nos produtos. A Volvo não criou uma metáfora abstrata, mostrou, de forma memorável, aquilo
que a sua tecnologia tinha de único.
O mesmo se aplica a outros casos internacionais, como o “Real Beauty Sketches” da Dove ou o
“Like a Girl” da Always. Campanhas que se tornaram marcos culturais não por serem as mais
ousadas, mas por tocarem em verdades profundas sobre identidade, autoestima e
empoderamento.
No fim, pensar criativamente não é apenas pensar diferente. É pensar com intenção. É
perceber que a ideia certa não é a mais excêntrica, mas a que melhor responde a um insight
real do consumidor, a que reforça valores de marca e a que entrega resultados tangíveis. A
criatividade estratégica é isso: não uma fuga da caixa, mas a capacidade de redesenhar a
própria caixa para que faça sentido para quem importa – as pessoas.
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